O que é colo curto?

Para começarmos a falar de colo curto na gravidez vamos rever um pouco da anatomia. O colo do útero é a parte da saída desse órgão que fica em contato com a vagina. É pelo colo do útero que sai o sangue menstrual e é o colo do útero que vai dilatar para o bebê passar no parto.

Anatomia dos órgãos genitais internos femininos

Durante a gravidez ocorre um aumento do útero com o feto crescendo, além do aumento do fluxo sanguíneo para esse órgão. Isso faz com que, com o passar do tempo de gestação, o útero fique mais pesado.

O esperado durante esse ciclo é que o colo do útero se mantenha firme, forte e fechado. O normal é que o colo abra somente no momento do nascimento ou algumas semanas antes, mas já para o final da gravidez.

Um colo enfraquecido pode abrir antes do tempo e isso causar um parto prematuro, ou até mesmo um abortamento tardio (quando acontece entre 12 e 20 semanas de gestação). Antes de ocorrer a dilatação do colo, ele pode ficar mais curto ou ir abrindo de dentro pra fora, o que chamamos de afunilamento. Então em vez de um colo fechado e longo, temos um colo curto com ou sem afunilamento que tem um maior risco de abrir antes da hora.

Colo do útero normal (longo) e colo do útero curto

Mas como sabemos qual grávida vai ter um colo enfraquecido?

Infelizmente não existe um teste ou exame que podemos realizar em todas as grávidas antes da gestação ou bem no início que nos mostra qual colo vai se abrir antes da hora. Sabemos que existem vários fatores que podem contribuir para isso, desde quais bactérias vivem na vagina dessa mulher, até questões genéticas relacionadas ao colágeno.

Pacientes que já tiveram partos prematuros ou abortamentos tardios, pacientes que fizeram cirurgias no colo do útero para tratamento de HPV como conização ou CAF, pacientes que possuem malformações mullerianas (útero bicorno, unicorno) ou pacientes que já tiveram colo curto na gestação anterior estão em maior risco de desenvolverem colo curto.

Mas, apesar de conhecermos esses fatores de risco, a maioria dos casos de colo curto ainda acontecem em mulheres sem nenhum fator de risco conhecido, ou seja, que nunca tiveram nenhuma alteração relacionada ao colo e/ ou nunca engravidaram antes.

A prevenção da prematuridade visa identificar essas pacientes que possuem um colo curto antes que esse colo esteja muito encurtado e antes que ele se abra.

Isso é feito através do rastreamento de colo curto no meio da gestação. No momento da realização do morfológico de segundo trimestre, deve ser realizado um ultrassom transvaginal para a medida do colo do útero. Isso com cerca de 20 semanas. Nesse exame, esperamos encontrar um colo uterino maior que 25 mm, sem afunilamento.

Quando identificamos um colo menor que 25 mm dizemos que esse colo é curto. Isso quer dizer que essa mulher tem um maior risco de ter um parto prematuro.

Mas e agora? O que fazer com o colo curto?

Não existe uma única resposta para essa pergunta. Existem algumas intervenções possíveis de serem realizadas, isoladamente ou em associação. Dependendo do comprimento do colo, do histórico dessa mulher, se há ou não dilatação ou infecção, da idade gestacional e do desejo da mulher, será decidida a conduta avaliando cada caso individualmente.

Existem três intervenções principais nesses casos: medicação, cerclagem e pessário.

O uso de progesterona é a única intervenção que já foi comprovada como sendo efetiva nos casos de colo curto. Então, no geral, ela será a primeira conduta a ser tomada.

Junto com a medicação pode ser indicada uma cerclagem e / ou a colocação de pessário, dependendo do caso.

A cerclagem é uma cirurgia que é realizada pela vagina, com anestesia e em centro cirúrgico, que consiste em dar um ponto no colo do útero para que ele não abra com o peso da gestação. Essa cirurgia já é muito conhecida e estabelecida em outra condição que é a insuficiência istmo-cervical. Nos casos de colo curto, sem histórico de gestação anterior, aborto tardio ou parto prematuro, ela pode ser usada dependendo do caso, mas não é indicada em todas as gestantes com colo curto.

O pessário é uma peça de borracha circular que é inserida na vagina “abraçando” o colo do útero e alterando o ângulo que esse colo tem com o corpo do útero e, assim, diminuindo o risco desse colo reduzir mais ou abrir. O pessário é estudado na literatura há muitos anos sendo que até hoje não foi comprovada sua eficácia em estudos científicos com unanimidade. Existem estudos mostrando bons resultados, e outros que não mostram diferença no risco do parto prematuro. Seu uso pode ser realizado dependendo do caso, após avaliação médica.

A conduta no colo curto é, portanto, individualizada. Esses casos devem ser avaliados por médicos especialistas nessa área e, junto com a paciente, chega-se na melhor opção para o caso dela.

O recado mais importante desse tema é que todas as gestantes devem realizar o ultrassom transvaginal para medida do colo do útero com 20 semanas. É com essa medida que é possível identificar alguns casos de colo curto evitando, assim, um parto prematuro.

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende presencialmente em seu consultório em São Paulo, ou via telemedicina. 

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