DIU significa dispositivo intrauterino e é uma peça de plástico de cerca de 3-4 cm que pode ter diferentes formatos e que é medicado com algo que vai impedir que aconteça uma gravidez.

Ele é um método anticoncepcional de alta efetividade e de longa duração. Isso quer dizer que ele é muito seguro no sentido do objetivo contraceptivo dele, mulheres que usam DIU tem uma grande proteção contra gravidez. Longa duração significa que ele é um método que a paciente coloca e depois não precisa ficar lembrando do uso do método. Uma vez instalado, ele está fazendo efeito por 5 ou 10 anos. Diferente dos métodos de longa duração, que são os DIUs e o implante hormonal, temos os métodos de curta duração que são todos os outros: camisinha, pílulas, injeções, anel vaginal e adesivo. Métodos de curta duração tem no geral uma efetividade menor do que os de longa duração porque além da efetividade medicamentosa ou do método em si, o uso correto do remédio pela paciente é essencial para que ele funcione. Se a paciente esquece a pílula, a segurança dela em prevenir gravidez diminui muito, o que não acontece com os DIUs e com o implante, uma vez que eles estão lá agindo, independente da paciente lembrar ou não deles.

Os DIUs podem ser medicados com metais ou com hormônios. Dentre os DIUs não hormonais temos os DIUs de cobre e de cobre com prata e os hormonais são, atualmente, o Mirena® e o Kyleena®, ambos medicados com diferentes dosagens do hormônio levonorgestrel.

Nesse texto vou contar mais para vocês sobre o DIU de cobre!

O DIU de cobre é um método anticoncepcional que existe há muitos anos e está completamente consolidado no mercado sendo um anticoncepcional de alta efetividade, segurança e disponibilidade. No Brasil ele é um método disponível de graça no SUS.

Mecanismo de ação

Ele é uma peça de plástico com fios de cobre envoltos nesse dispositivo. Quando ele está dentro do útero, a presença desse cobre na cavidade endometrial gera uma alteração do tecido que impede que os espermatozoides consigam entrar e subir no útero para encontrar o óvulo. O mecanismo de ação do DIU de cobre é, portanto, impedir que o espermatozoide encontre o óvulo que está na tuba uterina (antigas trompas). Ele não é um método abortivo! Se por acaso o espermatozoide encontrar o óvulo a gravidez pode ocorrer, o que é raríssimo, e seria uma falha do método, mas o DIU não causa aborto, ele impede que se forme o embrião, impede que o espermatozoide encontre e fecunde o óvulo.

Esse mecanismo de ação é local, com o cobre agindo no endométrio, que é a camada interna do útero. Ele não possui medicações ou hormônios e por isso não tem nenhuma capacidade de alterar qualquer outra coisa no corpo que não seja o útero e o endométrio em si. Ele não causa, portanto, nenhum efeito colateral sistêmico como náuseas, dor de cabeça, aumento da oleosidade, acne, ganho de peso, alterações na libido, ou qualquer sintoma do corpo todo. Por não ter hormônios ele não altera em nada a produção hormonal do seu corpo, nem no cérebro, nem nos ovários e, por isso, não altera seu ciclo menstrual. Usuárias de DIU de cobre continuam menstruando como menstruariam se não usassem DIU, não é possível controlar a menstruação como é possível com outros métodos, como a pílula, seu corpo está agindo livremente com a produção hormonal de uma mulher que não usa hormônios. Você está desbloqueada do ponto de vista hormonal. Isso quer dizer que você também está ovulando a cada mês. A ovulação e a menstruação vão ocorrer segundo o equilíbrio do seu próprio corpo, independente da presença do DIU. Os DIUs não hormonais permitem que a pessoa faça o estudo do ciclo menstrual.

Possíveis efeitos colaterais

A presença do DIU na cavidade endometrial pode sim ter alguns efeitos locais, no tecido do útero, que podem causar alguns sintomas menstruais. Esses dois sintomas são as principais queixas que as usuárias de DIU de cobre podem ter após a colocação do dispositivo: aumento da quantidade do fluxo e aumento da cólica menstrual.

O aumento da quantidade de sangramento é geralmente descrito como aumento do fluxo e não necessariamente dos dias de sangramento, mas algumas pacientes podem também apresentar aumento dos dias de sangramento. Na grande maioria das mulheres esse aumento é discreto e não traz nenhum transtorno.

O aumento da cólica pode ou não acontecer, mas, também, na grande maioria dos casos é um aumento pequeno sendo que esse incômodo é muitas vezes controlado com medidas naturais ou medicações simples.

Existem algumas mulheres que podem apresentar sintomas da parada da pílula como aumento da acne (efeito rebote da parada da pílula), irregularidade menstrual, entre outros, quando param a pílula e colocam em seguida o DIU de cobre, mas é importante entender que esses sintomas gerais não são do DIU e sim da parada do hormônio da pílula, nesses casos.

Efetividade: ele é seguro para prevenir gravidez?

O DIU de cobre é um método muito seguro para prevenir gravidez tendo um Índice de Pearl de 0,6 no uso perfeito e 0,8 no uso habitual *, isso quer dizer que segundo os estudos científicos, de 1000 mulheres que usam DIU de cobre durante um ano, tendo várias relações sexuais desprotegidas apenas 8 irão engravidar (o que pode ser simplificado para 0,8%).

Esse número pode parecer alto, mas se compararmos aos números dos outros métodos anticoncepcionais como a pílula que tem uma falha de 3% ao ano ou o preservativo que tem uma falha de até 16% ao ano, ele é muito baixo. 

É importante lembrar que sempre que falamos de métodos anticoncepcionais nunca estamos trabalhando com o 100% de segurança e efetividade, nenhum método te garante 100% de chance de não gravidez, apenas a abstinência sexual, ou relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Sempre que ocorre uma relação vaginal heterossexual com uma mulher fértil (entre a menarca e a menopausa), pode ocorrer uma gravidez. O uso de métodos contraceptivos tem como objetivo reduzir esse risco. É essencial que o casal entenda que esse risco nunca é zero e que qualquer método anticoncepcional tem uma taxa de falha, até as esterilizações. A vasectomia tem uma chance de gravidez de 0,1% ao ano e a laqueadura de 0,5% ao ano!

Temos que comparar os métodos que existem no mercado quanto à taxa de efetividade e de falha deles e avaliar, junto com a paciente, qual é o risco que ela topa correr, se ela quer buscar um método mais seguro, como os de longa duração, ou os que possuem uma maior taxa de falha, mas possam ter outras vantagens para o caso dela.

Mas e os boatos de que é comum engravidar com o DIU de cobre? São isso: boatos. Essa taxa de falha já foi extensivamente estudada na ciência e é super baixa.

Localização do DIU

O DIU de cobre, por ter ação local no útero, no endométrio, deve estar na localização certa para proteger contra gravidez: na cavidade do útero. Se ele estiver em qualquer outro lugar que não seja a cavidade do útero, como no colo ou penetrando o músculo do útero (miométrio – chamamos isso de perfuração uterina pelo DIU), ele tem uma maior taxa de falha. Quando a inserção é realizada sem nenhuma intercorrência por médico ou enfermeiro experiente, não é necessária a verificação da posição do DIU por ultrassom, mas em cenários em que é possível realizar pelo menos um exame para verificar se o DIU está no local certo, é interessante essa avaliação. Após esse ultrassom inicial, não é necessário ficar realizando ultrassons a cada 6 m ou um ano para checar se ele ainda está no lugar. Os estudos mostraram que isso não aumenta a segurança do método.

Se a paciente sentir algo estranho como sangramentos irregulares, sangramento na relação sexual, cólicas mais intensas que o habitual, ou mesmo sentir na vagina alteração do tamanho do fio do DIU ou mesmo o próprio DIU parcialmente saindo pelo colo do útero, daí sim, nesses casos, podemos pensar que existe uma maior chance do DIU ter mudado de posição, e a verificação por ultrassom transvaginal para avaliar se ele ainda está no local certo é indicada.

DIU normoposicionado – na cavidade do útero (cavidade endometrial)
DIU malposicionado – no colo do útero
DIU malposicionado – perfurando a parede do útero

Inserção do DIU

A inserção é um procedimento simples e rápido que pode causar certo incômodo, essa cólica varia muito de paciente para paciente. A inserção pode ser realizada no consultório médico com ou sem anestesia local ou no hospital sob sedação (paciente dormindo anestesiada).

Retirada do DIU

A retirada é indolor e é realizada no consultório médico. Apesar dos DIUs durarem até 10 anos, eles podem ser retirados quando a usuária quiser. Os motivos mais comuns da retirada é o desejo de gestar, o vencimento, ou, mais raramente, a inadaptação devido aos possíveis efeitos colaterais de aumento de sangramento e cólica menstrual.

Existem diferentes formatos, tamanhos, marcas de DIU de cobre e não há grandes diferenças entre eles na efetividade, segurança, efeitos no corpo. Em alguns casos específicos quando ocorreu expulsão de um DIU de tamanho habitual podemos tentar usar um DIU de cobre menor, mas isso é mais raro e, na minha opinião, na grande maioria dos casos, o clássico DIU T de cobre, que está no mercado há décadas, é a melhor escolha.

Recentemente entrou no mercado o DIU de cobre com prata que é muito similar ao DIU de cobre tradicional em tudo que eu falei aqui, mas ele possui algumas particularidades, como a diferença de que ele dura 5 anos, enquanto a maioria dos DIUs de cobre duram até 10 anos.

A escolha do método anticoncepcional é individual não sendo possível dizer qual é o melhor método anticoncepcional no mercado. O que você precisa avaliar, discutir com seu médico, e se informar para chegar a uma conclusão é: qual é o melhor método para você, considerando quais são suas prioridades nessa escolha do método, nesse momento da sua vida.

Algumas perguntas essenciais para essa escolha são: Eu quero engravidar em breve? Eu aceito uso de hormônios? Eu quero menstruar? Eu tenho algum sintoma secundário que eu poderia alterar com o uso de anticoncepcionais (como cólica, sangramento excessivo, etc)? Eu tenho doenças ou tomo remédios que podem interferir com o anticoncepcional? Eu tenho responsabilidade para realizar o uso correto do método (como por exemplo tomar a pílula todo dia ou usar o preservativo da forma correta em todas as relações)? 

A análise de todos esses fatores vai te levar a escolha de qual é o melhor método e qual método é possível para você nesse momento. 

Se informe de todos as possibilidades que existem. Vivemos em um momento em que a tecnologia médica oferece várias opções para reduzir a chance de gravidez no sexo, além da pílula.

Se tiver interesse sobre outros métodos anticoncepcionais em conteúdos em formato de vídeo tem muitos vídeos no meu canal do YouTube sobre anticoncepção! Deem uma olhadinha por lá!

Referência bibliográfica: *WHO Medical Eligibility Criteria for Contraceptive Use, 4a ed, 2009. Disponível em: http://whqlibdoc.who. int/publication/2009/9789241563888_eng.pdf

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende presencialmente em seu consultório em São Paulo, ou via telemedicina. 

Artigos semelhantes