A virgindade, para as mulheres, tem sido historicamente relacionada ao rompimento do hímen (uma pelinha na entrada da vagina), mas esse tema é muito mais complexo do que isso!

A meu ver, qualquer interação sexual com outra pessoa configura o início da vida sexual, mesmo que não haja penetração vaginal, e, portanto, não ocorra nenhuma alteração física no hímen. Mas daí entramos em outra questão que gera muita discussão: o que é sexo? Quais modalidades da intimidade podem ser consideradas como atividade sexual?

Temos diferentes definições de sexo na sociedade, podemos pensar do ponto de vista da biologia, pensando em reprodução, ou do ponto de vista jurídico, quando pensamos em crimes sexuais. Como a minha abordagem sempre busca um entendimento profundo e completo sobre o paciente, no caso a mulher, eu prefiro focar em como a realização dessas novas atividades sexuais vão ter consequências para essa pessoa do ponto de vista físico, emocional e mental. 

Quando abrimos essa definição de sexo para qualquer atividade que seja capaz de causar mudanças em todos esses aspectos, eu acredito que chegamos à uma definição, (que é a que eu sigo atualmente): toda interação de cunho sexual é sexo, seja namorar pelado, masturbação, sexo oral, e até mesmo sexo com penetração.

Quando pensamos em que consequências essas ações podem causar na vida da pessoa que as está praticando e consideramos o aspecto mais amplo, como por exemplo, como o início das atividades sexuais muda o relacionamento, traz novas angustias, inseguranças, medos, mesmo que não traga nenhuma consequência física em si, passamos a entender que mesmo atividades menos invasivas, como masturbação mútua e sexo oral também tem o potencial de mudar essas pessoas, de trazer novidades no campo emocional e mental, mesmo que essa pessoa não esteja se expondo ao risco de gravidez, por exemplo. (Vale lembrar que sexo oral pode transmitir infecções sexualmente transmissíveis.)

Quando a sociedade coloca um peso tão grande na penetração vaginal como o início da vida sexual, temos ao mesmo tempo uma expectativa muito grande em torno desse tipo de atividade em detrimento das outras modalidades de sexo que são consideradas por muitos jovens como não sexo, preliminares, atividades que não precisam ser avaliadas, pensadas e tomadas como ações com potenciais consequências, as vezes desastrosas, não só no campo mental e emocional, mas inclusive no corpo físico.

A primeira vez tem um peso muito grande no resto da vida dessas meninas e mulheres que muitas vezes levam pra sempre traumas, inseguranças, pensamentos negativos relacionados ao sexo devido a iniciações violentas, humilhantes, ou mesmo, “apenas” não prazerosas. Fazer sexo com alguém exige um mínimo de maturidade para entender o jogo de poder vs vulnerabilidade que acontece nessas situações.

A grande maioria das pessoas, na vida adulta, não tem um entendimento completo dessas interações emocionais e psíquicas que ocorrem quando estamos nos relacionando intimamente com o outro, quem diria no início da vida sexual. Devemos, portanto, partir do princípio que os jovens e pessoas que nunca se envolveram sexualmente com outras pessoas vão ter muitas dúvidas e aflições nesse momento, relacionadas não apenas com à performance em si, mas com questões de vulnerabilidade, vergonha, confiança etc.

Hoje em dia não temos uma educação sexual adequada, nem em casa, nem na escola, e, quando converso em meu consultório com pessoas que estão iniciando a vida sexual, a sua experiência geralmente é bem limitada, baseada na experiência igualmente escassa de pessoas da mesma idade ou, pior, em filmes da indústria pornográfica.

As pessoas, desde a massificação dos filmes pornô na internet, quando vão transar pela primeira vez (qualquer modalidade de sexo), têm uma imagem na cabeça do que deve ser uma relação sexual, como são os passos, qual é a interação entre os participantes, como é o trato entre eles, as conversas (quando há conversa), as posições, as roupas, os barulhos. Esse cenário que eles têm gravado na mente, consciente e inconscientemente, sejam homens ou mulheres, já está dada pela exposição ao pornô. Quando você nunca praticou, nem teve uma conversa sincera com alguém a respeito, mas já viu vários filmes sobre o assunto, cria-se uma expectativa de que aquilo é assim, ou pelo menos deveria ser assim, e, pior, que  seu parceiro ou parceira deve interagir e responder da maneira como está no filme.

Só que o filme é FALSO. Representa o que o diretor acha que vai vender mais, está editado, foi gravado com maquiagem, figurino, roteiro, com cortes e paradas para retoques, a ereção é muitas vezes medicada, o prazer feminino é na GRANDE maioria das vezes fingido, porque, além de tudo isso, quem mais consome pornô, e quem é o publico alvo da indústria tradicional são os homens. Todo esse arcabouço imagético que as pessoas têm como sendo a realidade de uma relação sexual é completamente mentiroso!

Jovens chegam, então, nas suas primeiras experiências, com toda essa bagagem de expectativa de como será, porém nunca é como eles imaginavam, PRINCIPALMENTE PARA NÓS MULHERES. 

Antigamente, quando o acesso ao pornô era muito mais restrito e se resumia a revistas de mulher pelada e algumas revistinhas que mostravam fotos de cenas de sexo, muitos jovens iam se descobrindo nas primeiras vezes, descobrindo o corpo do outro de forma mais natural. Hoje em dia eu tenho a impressão de que para se descobrir o prazer próprio, bem como o do outro na relação, temos que primeiro conseguir nos livrar de um monte de falsas verdades que nos foram ensinadas sobre o que é sexo e como obter prazer. 

Nós como mais experientes, mais velhos, pais e cuidadores, médicos, professores e psicólogos temos a responsabilidade de passar um pouco da verdade do que é o sexo, quais suas consequências e seus prazeres. A forma como conversamos com as pessoas menos experientes sobre essa nova jornada tem um peso e pode ajudar muito essa pessoa a ter uma sexualidade mais positiva, ou, ao contrário, incutir idéias negativas, traumas e medos que vão atrapalhar o desenvolvimento natural dessa parte de sua vida.

Segue aqui embaixo um vídeo sobre o assunto caso gostem desse formato também!

No meu canal do YouTube tem vários vídeos sobre diversos assuntos, se gostarem desse formato deem uma olhadinha lá!!

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende presencialmente em seu consultório em São Paulo, ou via telemedicina. 

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