O plano de parto é um documento no qual a gestante deixa claro quais as suas expectativas e desejos quanto ao processo do parto, cuidados maternos, intervenções, cuidados com o bebê e quanto à equipe de assistência.

Existem vários tipos de plano de parto, alguns bem longos, com muitas páginas, e outros curtinhos, com apenas uma tabela onde a gestante coloca sim ou não em alguns itens principais.

Não tem certo e errado, o que muda entre eles é a dedicação que a gestante e a equipe que a está acompanhando dispendem na sua construção.

Para decidir o que a gestante espera e deseja quanto a cada item do plano de parto, ela necessita estudar as opções que existem frente àquela intervenção, ação, e, munida de informação de qualidade, tomar sua decisão. Portanto esse processo não é algo que demora 5 minutos para ser feito. Ele demora o pré-natal inteiro!

Nesse processo, a grávida pode obter esse conhecimento de várias formas, através de pesquisa própria, da conversa com sua equipe, com sua doula e em grupos e rodas de gestantes. Cada decisão tomada deve então ser discutida com sua equipe para que possa ser estudado se as expectativas daquela gestante estão alinhadas com as possibilidades de realização do parto nesses moldes, por essa equipe. Às vezes, no decorrer da construção do plano de parto, identificam-se incompatibilidades entre a equipe e o desejo da gestante sendo até necessário mudança de equipe. Por exemplo, se a gestante opta por um parto domiciliar, ou um parto em casa de parto, pode ser que a equipe que está acompanhando não atenda esses partos e ela precise procurar uma equipe mais alinhada com o que ela espera desse processo. Ou, ainda, que no final da gestação, a grávida opte por um parto pélvico programado e seu médico não realize parto pélvico programado. Nesse caso, ela vai precisar trocar por uma equipe que tenha experiência com parto pélvico vaginal. Isso também serve para o outro extremo: se a gestante que agendar uma cesariana eletiva sem indicação médica, pode ser que seu obstetra discorde desse tipo de atendimento e ela precise procurar um profissional que realize cesarianas eletivas.

As decisões não são apenas essas grandes como citei acima, também são abordadas questões como: ter liberdade para caminhar, comer e beber durante o trabalho de parto, ter autonomia de escolher a posição para parir, poder escolher a música, os cheiros, a iluminação do local onde ela vai ter o bebê, ter um acompanhante da sua escolha, ter doula, etc.

Além disso, todas as possíveis intervenções que podem acontecer com a mãe e com o bebê devem ser analisadas e discutidas. 

Como assim? 

Existem muitas intervenções que quem esta planejando um parto não pensa, e não quer pensar, como a necessidade de uso de anestesia, fórceps, vacuoextrator, e a necessidade de uma cesariana. Ninguém quer pensar que vai dar algo de errado ou que fuja do planejado, mas parto é um processo e é sim imprevisível. Estar ciente das possíveis complicações e quais são as intervenções que podem ser necessárias, é a diferença entre: lidar com algo que você conhece, já estudou e sabe as possíveis consequências; e de ser pega de surpresa com algo que você nunca ouvir falar e que pode te desesperar no momento do trabalho de parto e nascimento. Podemos aplicar essa situação também para as mulheres que já sabem que querem uma cesariana. Elas também devem se preparar e entender como é um parto normal, porque existe a possibilidade de ocorrer um parto vaginal antes que seja possível realizar a cesariana, como nos casos de partos muito rápidos.

Uso de medicações, possibilidade de necessidade de indução, contato pele a pele, intervenções do bebê como vacinas, colírio, aspiração, quando clampear o cordão umbilical, tudo isso deve ser pensado e discutido antes do momento do parto.

Infelizmente, muitos obstetras não aceitam, não ajudam, não toleram o plano de parto, por desconhecimento mesmo, por não saber exatamente o que é esse documento, ou por achar que ele está obrigado por algum tipo de contrato de realizar o que está escrito no plano de parto. Esse é um discurso antigo, de quem realmente não tem contato com a obstetrícia humanizada e respeitosa com o protagonismo da mulher. O plano de parto é uma forma organizada dessa mulher colocar as suas vontades quanto ao que ela espera que seja a SUA experiência de parto. O parto DELA, não do médico.

Vale falar que o movimento de humanização do parto tem como pilar a medicina baseada em evidências, portanto, é a junção do respeito ao protagonismo da mulher com a medicina baseada em evidência, e a transdiciplinaridade (trabalho em equipe) que, juntos, e em equilíbrio, podem prover a melhor experiência de nascimento.

O plano de parto é uma intervenção que é indicada e estimulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde também orienta a importância desse documento como forma de educação da gestante e proteção das mulheres contra a violência obstétrica que, infelizmente, ainda é algo presente em grande parte dos serviços de saúde no Brasil. Se a gestante nem sabe o que é normal e o que é esperado, como ela vai identificar o que está errado e o que é desnecessário na sua assistência?

Grande parte das gestantes não tem acesso a serviços humanizados de pré-natal e parto e muito menos a uma equipe que estimule e a ajude com a construção do seu plano de parto. Calma!! Eu posso ajudar!

Existem vários planos de parto que são disponíveis de graça na internet, além de vários blogs e sites que discutem cada intervenção e situação, então, apesar de mais trabalhoso, é possível estudar tudo isso, mesmo sem a ajuda da sua equipe. O que eu mais indico para essas pessoas que não tem condições de acesso à uma equipe que esteja de acordo com o que a gestante acredita são: rodas de gestantes. As rodas ou grupo de gestantes são geralmente organizadas por coletivos de doulas, obstetrizes, ou pelas próprias grávidas e atualmente são majoritariamente realizados na internet. Esses espaços são seguros para partilha de experiências, medos, expectativas entre as mulheres e, em muitos casos, ocorrem orientações sobre alguns aspectos que deveriam ser discutidos pela sua equipe de assistência.

Deixo aqui embaixo o link do plano de parto desenvolvido pela equipe do NUDEM (Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres) e NEIJ (Núcleo Especializado de Infância e Juventude) da Defensoria Pública do Estado de São Paulo com a colaboração da Associação de Alunas/os e Egressas/os do Curso de Obstetrícia da Universidade de São Paulo (A.O./ USP) e do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde.

https://www.defensoria.sp.def.br/dpesp/Repositorio/41/Documentos/Plano_Parto_A5.pdf

Espero que ajude!!

Converse com a sua equipe sobre suas dúvidas durante a construção do plano de parto e quando identificados possíveis “problemas” busquem, juntos, identificar soluções para essas questões que existem, ou que podem vir a ocorrer, no momento do trabalho de parto, parto e puerpério.

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende presencialmente em seu consultório em São Paulo, ou via telemedicina. 

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