A pílula anticoncepcional é um método muito usado para prevenir gravidez. É um método hormonal que bloqueia o ciclo menstrual através do bloqueio do eixo hormonal – sexual. Esse bloqueio impede que ocorra a ovulação que é o fenômeno de soltura de um óvulo maduro pelo ovário no meio do ciclo menstrual. Sem óvulo para se encontrar com o espermatozoide, não há gravidez natural!

O mecanismo de ação da pílula, o bloqueio do eixo hormonal – sexual, assim como as próprias medicações que estão no remédio, os hormônios sintéticos, podem apresentar diversos efeitos colaterais em vários sistemas do corpo como dor de cabeça, mal estar gastrointestinal, retenção de água (inchaço), dor nas mamas, diminuição da libido, mudanças emocionais, aumento do risco de trombose, entre muitos outros… Você já leu a bula da pílula anticoncepcional?

Quando foi lançada nos anos 60, a pílula foi um marco para a revolução sexual daquela década e para a segunda onda feminista, pois foi responsável, entre outros fatores culturais, pela divisão entre sexo e reprodução. A pílula era acessível e dependia apenas do uso da mulher, diferente do preservativo, o que permitiu um maior controle da natalidade e a possibilidade de maior liberdade sexual sem o “medo” de engravidar. Sexo passou a ser entendido também como fonte de prazer feminino.

Com o desenvolvimento da medicina e da tecnologia médica, as pílulas foram ficando mais modernas, com menos efeitos colaterais e menores doses hormonais, mas o mecanismo de ação se mantém o mesmo desde seu lançamento e é o bloqueio do ciclo menstrual. Mulheres que usam métodos hormonais de anticoncepção como: injeções, implante subdérmico, pílulas, adesivo e anel vaginal estão bloqueando sua produção natural dos hormônios sexuais e vivendo sem a experiência do ciclo menstrual desbloqueado.

Hoje em dia, nos últimos anos, tem crescido o número de mulheres que questionam se para ter uma anticoncepção adequada e segura ela precisaria abrir mão de um sistema tão importante para o “ser mulher” como o hormonal-sexual.

A resposta é: não!

Hoje em dia existem outras formas seguras e não hormonais de anticoncepção que permitem que você viva sua liberdade sexual sem o bloqueio hormonal que a pílula causa, podendo viver seu dia a dia de acordo com as diferentes fases do ciclo menstrual que são caracterizadas pelos níveis hormonais femininos diferentes em cada uma delas.

Nosso corpo foi feito para ser cíclico e funciona melhor quando seus sistemas fisiológicos estão equilibrados, sem o bloqueio da produção dos hormônios sexuais.

Tendo esse chamado, esse desejo de voltar a ciclar naturalmente, muitas mulheres têm medo de parar a pílula. Em muitos casos essa medicação foi prescrita não apenas para anticoncepção, mas também como cura milagrosa para ciclos irregulares, cólica, acne, TPM, aumento de pelos ou mesmo para tratar uma “Síndrome dos Ovários Policísticos” que muitas vezes não foi um diagnóstico correto. Estando há 10, 15 anos em uso de pílula anticoncepcional, existe um medo dos possíveis efeitos dessa parada da medicação, do desbloqueio do ciclo menstrual e desse retorno ao seu real corpo cíclico, sem o efeito dos hormônios sintéticos.

Existe, assim como com o uso de todos os hormônios, um período de adaptação e possíveis desbalanços que podem ocorrer nos meses após a parada da pílula, principalmente em pacientes que tinham sintomas intensos ou dolorosos do ciclo menstrual antes do início da medicação. Nesses casos, pode ser interessante um acompanhamento médico para amenizar possíveis sintomas desagradáveis, de forma não hormonal, e entender como o ciclo menstrual vai se comportar a partir desse desbloqueio.

Os principais sintomas que podem aparecer nesse retorno ao seu corpo natural são: aumento do fluxo menstrual, mudanças emocionais a depender das diferentes fases do ciclo menstrual, aumento da oleosidade da pele e cabelo e acne (principalmente no período de rebote) e irregularidade de ciclo nos primeiros meses, ou mesmo amenorréia pós pílula.

No vídeo abaixo, que está no meu canal do YouTube, eu explico em mais detalhes “O que esperar quando eu parar a pílula”.

Espero ter ajudado vocês a preverem as possíveis mudanças de adaptação dessa fase da parada da pílula. Se tiverem sintomas persistentes ou intensos procurem ajuda! Na imensa maioria das vezes, mesmo no caso de doenças como Síndrome dos ovários Policísticos e endometriose, esse retorno ao seu próprio corpo é um caminho incrível para o autoconhecimento do seu organismo e um “fazer as pazes” com o feminino e com o ciclo menstrual.

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende presencialmente em seu consultório em São Paulo, ou via telemedicina. 

Artigos semelhantes