A menstruação é um processo natural que acontece nos corpos que possuem útero por um grande período das nossas vidas. Vivenciar esse aspecto da nossa fisiologia de forma gentil, sem tabus, entendendo que ele é importantíssimo para o equilíbrio nos nossos corpos faz muita diferença.

Mas, para algumas pessoas, o sangramento menstrual é um período difícil, que acontece com sintomas negativos como a cólica menstrual.

Ter cólica menstrual é relativamente comum na população, mas existem alguns aspectos importantes de serem discutidos ao falarmos desse fenômeno.

Uma diferenciação que eu acho essencial e que eu ensino para as minhas pacientes ao abordarmos esse assunto é a seguinte: a cólica que você sente é realmente uma dor, dor, que atrapalha suas atividades, ou é uma sensação que você sente no baixo ventre durante a menstruação e que você aprendeu a chamar de dor?

A maioria das meninas, quando aprendeu sobre o que é a menstruação, ouviu que ela é um problema, um fardo, um peso que temos que lidar todos os meses. Que nosso sangue é sujo, nojento, que esse período acontece com dor, e que, além de tudo isso, ainda podemos engravidar a partir da menarca. Ao recebermos essas informações entremeadas de preconceitos, tendemos a interpretar tudo relacionado com o sangramento sob uma ótica negativa.

Portanto qualquer sensação que sentimos no útero no período menstrual, e que não acontece no resto do mês, chamamos de cólica, de dor e interpretamos como algo que não deveria acontecer. Mas nem toda sensação no útero na menstruação é uma alteração, uma doença. Sentir um peso no baixo ventre, uma sensação de que algo está se movendo, contraindo, fluindo, sentir um inchaço, é normal! É perfeitamente esperado que como está acontecendo um processo diferente naquele momento do ciclo menstrual, nós iremos sentir algo diferente. Nem todas essas sensações, por mais que possam ser estranhas ou até levemente incômodas, devem ser consideradas como algo errado, patológico.

Nem toda sensação no abdome na menstruação é cólica / é dor e nem toda dor no útero na menstruação é uma doença.

O primeiro passo ao avaliar uma pessoa com cólica menstrual é dividir essa sensação em: é realmente uma dor, algo que atrapalha, ou é só uma sensação, uma percepção de que o seu útero está menstruando?

Se a sua resposta for: “é uma sensação e não uma dor”, as vezes apenas essa constatação já é responsável por um maior conforto nesse período; mas se você realmente sofre com dores, de fato, vale a pena investigar.

Algumas mulheres apresentam sintomas intensos e incapacitantes de dor no período menstrual, no qual precisam parar o trabalho ou os estudos, as vezes procurar o pronto socorro, sofrendo de dores que não passam mesmo com o uso de medicamentos. Nesses casos, é importante que haja uma investigação médica para descobrir se essa cólica é funcional ou se existe alguma doença que está causando esse sintoma importante.

Particularmente nos primeiros anos após a menstruação, é comum que a menina sinta mais incômodo, as vezes até mesmo dor, e que essa sensação vá amenizando com o passar dos ciclos. Se sua dor não melhora, atrapalha seus estudos, faz você perder a escola, ela deve ser investigada, mesmo em adolescentes! 

Algumas doenças ginecológicas como miomas e endometriose podem cursar com intensas cólicas menstruais que prejudicam a qualidade de vida. Se identificadas, essas alterações devem ser tratadas com as condutas específicas para cada uma delas. Mas, na maioria dos casos, não identificamos nada de orgânico, nenhuma doença que justifique essa dor. Nesses casos, mesmo que não seja diagnosticada nenhuma patologia que esteja por trás de uma intensa cólica menstrual, vale a pena tratar a dor em si, o sintoma, para proporcionar uma vivência da menstruação mais satisfatória para essas meninas e mulheres.

Sendo a cólica fisiológica ou patológica, ninguém precisa ficar sentindo dor no período menstrual quando temos tratamentos disponíveis para trazer mais conforto para a nossa lua. Mas como a cólica tem um comportamento cíclico, é algo que provavelmente vai aparecer várias vezes na nossa vida, eu acredito que é benéfico buscarmos primeiro tratamentos naturais, em vez de usar remédios de farmácia todo mês.

É essencial, também, que nós avaliemos nossos hábitos de vida para entender se eles estão ajudando ou piorando a sensação de dor ao menstruar. Por exemplo: pensar se a sua cólica aumenta ou diminui quando você faz atividade física, avaliar se o orgasmo melhora a sensação de dor (algo relatado por muitas mulheres) e tentar correlacionar que tipo de alimentação no período pré-menstrual e menstrual piora a cólica. Uma vez que você desenvolve a habilidade de identificar o que faz piorar e o que pode melhorar a sua dor menstrual, tem nas mãos a possibilidade de controlar melhor esse sintoma sem o uso de medicações.

Não devemos normalizar pessoas que sofrem com dores intensas na menstruação, mas também não podemos considerar qualquer sensação do seu útero menstruando como uma alteração, afinal de contas, ele está sangrando. O estudo do ciclo menstrual, do que é o sangramento menstrual, de como esse processo natural é essencial para o funcionamento integral do corpo, são fatores que estão relacionados com um maior entendimento e maior aceitação da menstruação como parte essencial da fisiologia dos corpos com útero.

Se você é uma pessoa que sofre com cólicas intensas, procure um médico, avalie o que pode estar acontecendo e tente tratar a dor antes de bloquear a menstruação. Entender da onde está vindo esse sofrimento ao menstruar e se conectar com seu corpo que cicla é muito importante a longo prazo, no entendimento desse processo.

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende em seu consultório, que fica localizado na Vila Mariana, em São Paulo. 

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