Cada um tem um papel no parto, e cada função é importante para que tudo dê certo e que o ambiente fique tranquilo e aconchegante para a gestante e para o bebê que vai chegar. Mas ainda existe muita confusão sobre esses papéis. Quem é a melhor pessoa para ser acompanhante? O pai do bebê? A mãe da gestante? O acompanhante e a doula tem o mesmo papel?

O acompanhante

tem uma função de apoio, uma pessoa de confiança que a gestante tem naquele momento, um afago de um rosto conhecido que ela escolheu estar presente nesse processo. Mas, ao mesmo tempo, o acompanhante tem um vínculo com o bebê sendo, na maioria das vezes, o pai, a avó, a tia ou a outra mãe da criança. Então, apesar de o acompanhante estar lá também para o suporte à gestante, ele tem um papel seu de conhecer o bebê e tem suas emoções que podem, em algum momento, atrapalhar o cuidado com a parturiente por parte dele. Ele está conhecendo seu filho / neto / sobrinho.

O acompanhante não é um profissional do cuidado à gestação, ele nunca viveu aquele processo, muitas vezes não entende o que é um parto e tem seus medos e aflições. Por isso, é tão importante que durante o pré-natal o acompanhante também se prepare para a função que ele exerce no momento do parto, conheça as fases de um trabalho de parto, confie na equipe de assistência e tenha muito claro que a protagonista desse momento é a grávida.

É por isso que o acompanhante e a doula tem papeis DIFERENTES no parto, a doula está lá para dar suporte para a mulher e apenas isso, ela não tem nenhum outro objetivo ou preocupação que não seja o bem-estar da gestante.

A doula

é uma profissional do cuidado do pré-natal, parto e puerpério e tem como responsabilidade o apoio àquela mulher que está parindo. Esse apoio emocional é relacionado a um maior sucesso do parto vaginal, menor necessidade de analgesia de parto e maior satisfação da parturiente com o processo do nascimento. A doula é uma profissional essencial no parto humanizado porque esse conforto materno e a percepção dessa mulher quanto à satisfação do parto é o principal objetivo da humanização na obstetrícia (junto com a segurança e a medicina baseada em evidências). Enquanto a equipe assistente (médico, obstetriz, pediatra e anestesista) está sempre preocupada em assegurar que as práticas estão corretas, e que ambos, mãe e bebê, estão com saúde, a doula preza pelo conforto e contentamento da gestante. É claro que a equipe como um todo deve estar preocupada com essa satisfação, mas frente a uma emergência médica, por exemplo, o objetivo principal dos médicos é tomar as condutas necessárias técnicas para que tudo corra com a maior segurança possível, mas a doula sempre está presente para tranquilizar e dar apoio à essa mulher, independente do que ocorra no parto.

Alguns hospitais, por exemplo, não permitem a presença da doula na cesariana, mas, muitas vezes, esse é o momento em que ela é mais imprescindível para tranquilizar e confortar a gestante que pode estar vivendo uma grande frustração de estar indo para uma cesariana não desejada, mesmo que necessária.

A confusão feita entre o papel da doula e do acompanhante deve ser esclarecida no pré-natal, porque a grávida não pode ficar com a impressão que seu marido, por exemplo, vai ter o mesmo papel e a mesma relevância que a doula no momento do parto quanto à capacidade de ajudar essa mulher com o processo do trabalho de parto e nascimento. Ambos são importantes em suas funções, mas eles não têm o mesmo papel.

A doula é uma pessoa com experiência profissional e expertises técnicas de alívio de dor e conforto emocional.

A escolha do acompanhante deve ser muito bem pensada, ela não é óbvia. É claro que deve ser levado em consideração a vontade do acompanhante de presenciar o nascimento do bebê, mas quando escolhido errado, essa pessoa pode ser um fator de stress para o ambiente do parto podendo, inclusive, atrapalhar o processo fisiológico do nascimento. Quando estiver escolhendo seu acompanhante, pense em alguns pontos fundamentais como: Essa pessoa entende e respeita suas escolhas do plano de parto? Entende as fases do trabalho de parto e sabe que pode demorar? Sabe que as escolhas devem ser suas? Confia na equipe? Entende a importância do seu protagonismo? Entende que o ambiente do parto deve estar confortável para você?

Levar para o trabalho de parto alguém que discorda das condutas da equipe, que não acredita na sua capacidade de parir, que pensa que seria melhor uma cesariana pode ser um tiro no pé. Imagine bem no momento de maior vulnerabilidade do trabalho de parto você tem alguém conhecido, da sua confiança, tentando te convencer de desistir e falando exatamente o oposto da sua equipe. Isso pode sim atrapalhar muito. Se o acompanhante que você está pensando em levar é uma pessoa que não está alinhada com suas expectativas de parto, as vezes vale a pena mudar, chamar alguma pessoa que tenha um pensamento parecido com o seu quanto ao processo do parto, ou, pelo menos, alguém que respeite integralmente suas decisões.

Escolha com sabedoria!

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende em seu consultório, que fica localizado na Vila Mariana, em São Paulo. 

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