Ginecologista: Qual seu papel na adolescência?
Autoconhecimento e educação em Saúde
Para falar sobre ginecologia na adolescência, não poderia começar por outro tópico que não o autoconhecimento.
Em todos os aspectos da vida, conhecer a si próprio, física, psicológica e emocionalmente, é a maior ferramenta que uma pessoa tem para tomar decisões conscientes e responsáveis sobre suas ações. Tendo, dessa forma, maior liberdade e mais controle sobre sua jornada de vida.
Esse estudo do se conhecer é um desafio e um trabalho constante que deve começar quanto antes houver essa oportunidade, esse despertar.
Como meninas e mulheres, um caminho, possível, de começo dessa descoberta é o conhecimento do próprio corpo.
Conhecimento do próprio corpo
Você já se olhou no espelho?
O aspecto dos órgãos genitais externos (a vulva) é tão diverso quanto somos diversos em todas as nossas características. A aceitação das nossas diferenças, que são lindas, e pintam a nossa espécie com toda essa diversidade de cores, ângulos e tamanhos, é um caminho essencial para uma vida mais feliz.
Uma questão muito frequente no consultório são dúvidas sobre a aparência dos lábios vaginais. Eles podem ser maiores, menores, a coloração da vulva pode ser diversa, assim como a distribuição e quantidade de pelos. Cada vulva é diferente da outra e todas são normais. Não existe melhor e pior, apesar do que a mídia as vezes divulga.
Da mesma forma o formato, tamanho, simetria, cor da aréola, tamanho da aréola das mamas, os mamilos são diversos e únicos em cada mulher.
Como seres femininos na sociedade atual, nosso corpo, muitas vezes, é alvo de julgamentos externos e de categorizações entre certo e errado, feio e bonito, gordo ou magro. Vocês já pararam para pensar que isso é completamente subjetivo e em referencia a um padrão que foi estabelecido socialmente e culturalmente. E, mais ainda, que muda conforme o tempo passa?
Tenham isso em mente quando receberem críticas ao corpo (e todas receberão, independente de suas características), porque só se ofende quem não se conhece. Se você sabe seu valor, a opinião do outro fica lá, no outro, e não te atinge.
Puberdade
Muitas mudanças, muitas dúvidas
A puberdade é a fase em que nosso cérebro “acorda” a produção hormonal dos nossos ovários e o corpo passa por modificações devido a ação desses hormônios. Crescem os pelos e as mamas, que chamamos de caracteres secundários, que se desenvolvem geralmente dos 8 aos 13 anos. E então vem a primeira menstruação, que chamamos de menarca, dos 9 aos 15-16 anos.
A menstruação pode ser vista como algo chato, que atrapalha a vida e nossas atividades do dia a dia, mas também pode ser visto como o que nos faz mulher, o que nos permite ser mães e o que nos confere a nossa característica cíclica, que é tão regente nas nossas vidas. É bom sermos cíclicas! Se nós entendermos as nuances dessa ciclicidade, e às aceitarmos, somos capazes de viver em maior harmonia com nosso corpo e de uma forma mais leve.
Ciclo menstrual na adolescência
Muito variável
O ciclo menstrual na adolescente não é fixo, certinho. Mesmo na vida adulta, é muito comum ter ciclos diferentes um do outro, mas, na adolescência, até 8 anos após a primeira menstruação, particularmente, isso é considerado NORMAL.
Um ciclo “normal” pode vir a cada 24 a 38 dias e o sangramento pode ocorrer de 3 a 8 dias, no geral, mas quando temos um ou outro ciclo que foge disso de forma isolada, também não precisamos nos preocupar.
Primeira consulta no ginecologista
Precisa de exame ginecológico?
O ginecologista é o médico da mulher e a primeira consulta no ginecologista não tem uma data certa para ser realizada. Ela pode ocorrer por volta da primeira menstruação, por alguma queixa da menina, ou quando ocorrer o interesse em relações sexuais.
Essa consulta é muito mais uma conversa onde ocorre a orientação quanto a temas importantes, além de tirar as dúvidas que a menina e a mãe podem ter quanto a esses assunto. Geralmente a mãe está junto e participa da consulta, mas se a paciente quiser conversar sozinha com a médica isso também é possível e, como todo paciente, o sigilo médico-paciente é sempre respeitado.
Nem sempre é necessária a realização do exame físico na consulta, apenas se houver necessidade e se a paciente quiser ser examinada e se sentir confortável.
O ginecologista deve ser alguém que a paciente confia e se sinta segura e próxima para procurar quando tiver dúvidas ou quando precisar de orientação para alguma questão médica ou de educação em saúde.
Conhece a ti mesmo
Autoconhecimento é o caminho para entender porque seu corpo funciona do jeito que ele funciona e aceitar a nossa ciclicidade, abraçar nossa menstruação e entender isso como algo natural, e lindo, do feminino.
Convido vocês a explorarem isso.
No âmbito físico através do estudo do ciclo e da correlação com vários aspectos da vida de vocês, e no âmbito psicológico e emocional através de momentos de privacidade em que vocês se dediquem a pensarem sobre vocês mesmas.
Pessoalmente, a escrita é a minha forma de me conhecer melhor, mas para você pode ser através da arte, da meditação, da corrida.
É muito importante que tenhamos momentos de dedicação para um autocuidado e autoestudo além de todas as atividades que já temos que realizar no dia a dia.
Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende presencialmente em seu consultório em São Paulo, ou via telemedicina.