Foi Freud que popularizou a questão da diferença entre orgasmos femininos obtidos através da penetração vaginal apenas, sem estimulo da vulva por fora, e orgasmos obtidos através do estimulo da glande de clitóris. Na teoria dele (explicando de forma simples por alguém que não tem formação em psicanálise) ele ranqueou os orgasmos colocando o orgasmo vaginal (via penetração) como um orgasmo possível de se atingido por mulheres com maturidade sexual. Como se este fosse mais difícil de ser atingido, superior e tivesse relação com uma completude de desenvolvimento sexual feminino. Por outro lado, o orgasmo pelo estímulo do clitóris na vulva, por fora, obtido sem a necessidade do estímulo vaginal interno e, portanto, sem a necessidade do pênis ou do homem, é, segundo Freud, característica de mulheres que ainda não atingiram sua maturidade sexual: ele é mais fácil, infantil, menos importante e as mulheres que gozam apenas dessa forma, imaturas.

Isso reflete uma ideia que muitas mulheres têm até hoje de que existem de fato dois “tipos” de orgasmo e que o vaginal seria melhor, mais “correto” (termo usado por Freud), melhor e mais intenso.

É muito importante falarmos sobre isso porque existe muita frustração de pessoas que não conseguem atingir um orgasmo apenas com a penetração vaginal e, por isso, se sentem inferiores, prejudicadas ou inadequadas, como se sua vagina ou seu corpo tivessem algum defeito de não proporcionar esse prazer extremo na penetração vaginal.

Mas será que existem mesmo dois orgasmos diferentes?

A ciência da sexualidade já estudou extensivamente essa questão e já é sabido que todos os orgasmos são, na verdade, clitoridianos!

O clitóris é um órgão muito maior do que apenas a glande do clitóris que é a parte que podemos ver na vulva. Ele é um órgão que se estende por debaixo da pele por todo o genital externo e “abraça” a porção inicial da vagina. Hoje em dia, sabemos que ambos os orgasmos: o que acontece com a estimulação da glande do clitóris por fora, na vulva e o que advém da penetração vaginal, são originados pelo clitóris. Sendo que o orgasmo “vaginal” acontece pelo estímulo do clitóris através das paredes vaginais nessa porção inicial do canal.

O que diferencia, então, esses orgasmos é que porção do clitóris gerou o estímulo. Mas todos são gerados no mesmo órgão.

Apenas cerca de 17% das mulheres conseguem chegar a um orgasmo apenas com penetração vaginal, sem nenhum estímulo externo da vulva, e isso acontece porque a inervação da vagina é muito, infinitamente inferior à inervação da glande do clitóris. A glande do clitóris possui mais de 8 milhões de terminações nervosas, o dobro da glande do pênis e essa estrutura tem apenas um propósito no corpo feminino que é: dar prazer! 

A inervação sensitiva no genital feminino é muito diversa e a depender da distribuição das terminações nervosas, algumas mulheres podem sentir muito prazer na penetração vaginal, outras não sentir nenhum, algumas ter muito prazer no períneo, ânus, lábios, etc, outras não. Mas de todas as áreas de possível prazer no genital, sem dúvida, é a glande do clitóris a estrela da festa!

Se você tem dificuldade de atingir orgasmo, ou nunca teve um e está buscando esse prazer, foque sua energia e seu estimulo neste local que sua chance de conseguir, estatisticamente, é muito maior.

Ao conversar com mulheres sobre as formas que elas atingem orgasmos encontramos  mulheres que conseguem gozar apenas se está acontecendo estimulo direto na glande do clitóris, aquelas que conseguem ter um orgasmo com penetração apenas, sem tocar o orgasmo, e outras que afirmam que o melhor estimulo, na verdade, é o duplo: penetração vaginal com dedos ou pênis JUNTO com estímulo externo da glande do clitóris, pois, dessa forma, você está estimulando esse órgão (clitóris) em dois locais diferentes.

A verdade é que a intensidade do orgasmo depende de vários fatores e é muito individual. Não existe nenhum tipo de comprovação cientifica de que orgasmos oriundos do estimulo vaginal interno são mais intensos.

Não conseguir atingir orgasmo só com penetração é completamente normal e muito comum! 

O problema acontece quando a performance na relação sexual é limitada apenas a penetração em uma mulher que precisa do estímulo do clitóris para obter prazer. Não é incomum a situação em que o casal heterossexual está transando, o homem tem um orgasmo na penetração, a mulher não, e a intimidade para por aí. O mais importante é que haja comunicação e autoconhecimento para que a mulher saiba o tipo de toque que a leva ao orgasmo e aplique essa sabedoria, seja ela mesma, ou ensinando ao seu parceiro, na cama. Assim, é possível que ambos tenham orgasmos, cada um do jeito que for preferido e possível, mesmo que esse ápice não aconteça no mesmo tempo, na penetração vaginal.

A crença de que o corpo feminino que não atinge orgasmo apenas com penetração é defeituoso é tão comum entre as mulheres e tão disseminada na sociedade que muitas mulheres fingem o orgasmo pois realmente acreditam ter algo errado. Essa prática piora a qualidade da relação sexual, afasta o casal e a longo prazo é muito prejudicial para a sexualidade e o prazer.

Devemos normalizar a situação do maior prazer da mulher estar no estimulo do clitóris já que o correspondente da glande do pênis, que é o maior local de prazer do genital masculino, é a glande do clitóris e NÃO A VAGINA! Converse com seu parceiro, explique a anatomia, conheça seu corpo e use desse conhecimento para ter o maior prazer que o seu corpo te proporciona nos momentos do sexo com o outro, mesmo que esse orgasmo aconteça em diferentes momentos para cada um do casal.

Se quiser saber mais sobre anatomia e orgasmo assista ao vídeo abaixo em que eu explico com modelos anatômicos essas questões!

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende presencialmente em seu consultório em São Paulo, ou via telemedicina. 

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