Ter um ciclo menstrual regular é um sinal de que seu corpo está com esse sistema atuando de forma saudável e equilibrado no seu organismo. Por esse motivo, quando o ciclo está irregular, há sempre uma preocupação para entender o motivo disso e, resolvendo esse desbalanço, retornar seu ciclo à normalidade!

Um dos “tratamentos” mais comuns prescritos por médicos para um ciclo menstrual irregular é a pílula anticoncepcionalMas você sabia que a pílula não regula o ciclo menstrual?

A pílula anticoncepcional combinada é uma medicação que possui dois hormônios na sua composição: um tipo de estrogenio e um tipo de progestágeno. Esses hormônios são produzidos em laboratório e quando ingeridos pela mulher sinalizam o cérebro de que já tem estrogenio e progesterona suficiente no sangue, fazendo com que a mulher pare sua produção própria de hormônios do eixo hormonal – sexual.

Em uma situação normal, sem uso de hormônios sintéticos, o ciclo menstrual ocorre devido a produção de alguns hormônios cerebrais (FSH e LH) que estimulam os ovários a produzirem os hormônios ovarianos sexuais: estradiol e progesterona. Quando a mulher está usando pílula anticoncepcional, a ação da medicação para evitar gravidez é o BLOQUEIO do eixo hormonal – sexual, o bloqueio do ciclo menstrual. Seu cérebro para de produzir e liberar no sangue os hormônios FSH e LH e seus ovários, portanto, não produzem mais estradiol e progesterona. Sem essa produção dos hormônios desse eixo não acontece a ovulação e nem a menstruação, e sem ovulação, não tem gravidez.

A mulher sob uso de pílula está bloqueada quanto a esse sistema fisiológico, com ele “adormecido” pelos hormônios sintéticos da pílula. Quando fazemos exames de sangue para dosar hormônios em mulheres em uso de pílula é possível observar uma diminuição de todos os hormônios sexuais, inclusive testosterona livre. Enquanto seus hormônios naturais estão baixos e bloqueados, os hormônios sintéticos da pílula estão presentes no sangue, sendo repostos a cada comprimido que você toma.

Como assim a pílula bloqueia a menstruação?

O mecanismo de ação da pílula para evitar gravidez é o próprio bloqueio do eixo hormonal – sexual e, através dele, o bloqueio da ovulação: sem óvulo não tem como engravidar!

Mas e a menstruação? A pílula combinada foi fabricada inicialmente para ser tomada com pausas, você toma alguns dias, 21 ou 24 e pausa por 7 ou 4 dias, completando um ciclo de 28 dias, depois disso começa a próxima cartela. Nessa pausa, na maioria das vezes, acontece um sangramento vaginal, parecido com uma menstruação, que chamamos de sangramento de privação hormonal.

O sangramento vaginal na pausa da pílula não é uma menstruação!

Esse sangramento acontece porque nos dias que você não toma os comprimidos com hormônios, ou toma aqueles comprimidos com cor diferente que são placebos (não possuem remédio nenhum), acontece uma queda nos níveis dos hormônios sintéticos no sangue, o que desestabiliza o endométrio (camada interna do útero) gerando um sangramento uterino. Não chamamos isso de menstruação porque ele não é um sangramento causado pelos mecanismos hormonais que geram uma menstruação normal e sim apenas um “efeito colateral” dessa queda dos níveis dos hormônios da pílula nos dias que você não a toma.

Portanto a pílula não regula o ciclo menstrual, ela bloqueia!

Por que não é interessante prescrever pílula frente a um quadro de ciclo menstrual irregular?

Como eu disse anteriormente, um ciclo irregular é um sinal do seu corpo que algo está errado, existe algum desbalanço em algum lugar que está causando essa alteração de sangramento menstrual. Se você não investiga a causa desse desequilíbrio e entra com pílula, bloqueando seu ciclo menstrual, você está, na verdade, apenas mascarando o sintoma, o sinal que seu corpo estava te dando de que algo está desbalanceado!

É essencial que frente a uma irregularidade menstrual seja feita uma investigação para entender a causa dela e, uma vez identificada, seja realizado um tratamento para que seu ciclo volte a ser como era antes. Muitas doenças, alterações, podem causar irregularidade menstrual, desde questões hormonais, stress, problemas com peso corporal (para mais ou menos), doenças ovarianas, da tiroide, da adrenal, Síndrome dos Ovários Policísticos, uso de alguns medicamentos, doenças uterinas, etc. Se você só tapa o sol com a peneira e não investiga o motivo da sua irregularidade, pode estar deixando passar um diagnóstico de alguma coisa que exigiria tratamento, postergando a resolução de algo que vai acabar aparecendo mais pra frente, quando você, por algum motivo, parar a pílula e voltar a ter ciclos irregulares!

A pílula é um método anticoncepcional e deve ser prescrita para isso, quando indicada e quando esse é o desejo da paciente, após avaliação de todos os métodos anticoncepcionais que existem. É importante que você avalie tudo que tem no mercado para entender qual é o melhor método para evitar gravidez para você, nesse momento da sua vida, levando em consideração os prós e contras de todos eles.

Dito isso, a pílula é um método que bloqueia um dos sistemas mais importantes do corpo feminino, alterando muitos aspectos do funcionamento do corpo e, por isso, pode ter tantos efeitos colaterais. Muitas pessoas não sabem disso quando iniciam o uso dessa medicação…

Não existe NENHUMA situação na ginecologia que exija o uso de pílula, e, portanto, o bloqueio do ciclo menstrual! Para todas as doenças para as quais comumente são receitadas pílulas combinadas como Síndrome dos Ovários Policísticos, endometriose, cólicas menstruais, TPM, miomas, etc, existem tratamentos não hormonais! Se você quer buscar um tratamento que não bloqueie seu ciclo menstrual procure uma segunda opinião de médicos que trabalhem com essa linha de atendimento!

Se quiserem saber mais sobre os diversos métodos anticoncepcionais que existem no mercado no Brasil, seus mecanismos de ação, possíveis efeitos colaterais, taxa de falha, prós e contras, contraindicações, tem vários vídeos no meu canal do YouTube sobre isso!! Tenho também vários outros textos aqui no Blog sobre métodos anticoncepcionais!

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende presencialmente em seu consultório em São Paulo, ou via telemedicina. 

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