O ciclo menstrual tem características próprias em cada mulher, sendo normal apresentar variações de pessoa para pessoa e de mês a mês. Tudo pode influenciar a regularidade do ciclo menstrual: alimentação, porcentagem de gordura corporal, atividade física, stress, doenças hormonais e metabólicas, medicações e até mesmo a sua idade.
Quando falamos sobre irregularidade de ciclo menstrual, podemos nos referir tanto ao intervalo entre as menstruações, quanto à duração do sangramento. Quando vamos ler sobre o assunto em livros que ensinam sobre o ciclo menstrual, aprendemos de forma didática a considerar um ciclo de 28 dias com 5 dias de sangramento, mas não é apenas o ciclo de 28 dias que é considerado fisiológico e regular!
Podemos considerar normal um ciclo menstrual com intervalo de 24 a 38 dias, ou seja, considerando que o primeiro dia do ciclo menstrual é o primeiro dia da menstruação, o intervalo de tempo entre dois ciclos pode ser desde 24 dias, até 38. Quanto à duração do sangramento, consideramos adequado uma menstruação de 3 a 8 dias. Levando isso em consideração, muitas mulheres que entendem que seus ciclos são irregulares, estão, na verdade, vivenciando variações normais do intervalo e da duração da menstruação. Na maioria dos casos, as mulheres tendem a ter um padrão de ciclo variando 3-4 dias, no máximo, de mês a mês.
O primeiro passo para avaliar se seu ciclo é regular é fazer um estudo por pelo menos três a seis meses anotando seu sangramento. Com essas informações, você deve então identificar se a variação dos dias está dentro do que é considerado esperado ou não. Dois momentos da vida em que é muito comum que as mulheres apresentem ciclos irregulares são: o início e o fim da sua vida menstrual.
A primeira menstruação é chamada de menarca e ela decorre da ativação do eixo hormonal-sexual do corpo da mulher na puberdade.
Os hormônios cerebrais que estimulam os ovários a produzirem os hormônios sexuais começam a ser liberados e esse equilíbrio hormonal culmina na ovulação e, posteriormente, na menstruação. Nos primeiros anos após a menarca, esse sistema está, ainda, imaturo, sendo muito comum irregularidades do ciclo menstrual que são consideradas normais nos primeiros dois a três anos após a primeira menstruação. Portanto, nesses primeiros anos, é esperado que a adolescente apresente ciclos que variam bastante. É possível observar ciclos curtos, com muitos dias de sangramento, ou grandes períodos sem sangramento, as vezes até 6 meses. Apresentar cólicas mais intensas também é um sintoma comum do início da vida menstrual.
Chamamos de menacme o período que vai da primeira até a última menstruação, ou seja, os anos em que a mulher experimenta o ciclo menstrual. A tendência na imensa maioria das meninas que apresentam irregularidades nos primeiros anos após a menarca é normalizar essa frequência de sangramento uterino naturalmente, mesmo sem nenhum tratamento específico. É por isso que o ideal e indicado nesses primeiros anos é apenas observar, incentivar a anotação dos dias de menstruação e aguardar uma regularidade após esse período de início da vida menstrual. Isso quanto à regularidade (ou irregularidade) do ciclo, no caso de dor, sempre deve ser ofertado tratamento para um melhor conforto e vivencia mais tranquila do sangramento.
Nos últimos anos de menstruação também é comum que as mulheres apresentem irregularidades de seus ciclos menstruais.
Quando a mulher se aproxima da sua última menstruação, chamada menopausa, ela vivencia um período de alguns sintomas de falência ovariana, dentre eles essa variação de ciclo menstrual. A idade média de menopausa no Brasil atualmente é de 51 anos, mas esses sintomas podem começar a aparecer até 10 anos antes da última menstruação.
Esse período é chamado de climatério e pode trazer outras questões como os calorões (fogachos), insônia, ressecamento vaginal, entre outros. A característica da menstruação, nessa fase da vida, varia de pessoa para pessoa, sendo esperados ciclos mais curtos ou mais longos, presença de escapes (sangramento em pequena quantidade, geralmente amarronzado, que acontece fora do período de sangramento menstrual) e mudanças na quantidade de sangramento tanto para mais quanto para menos. Essa possível irregularidade no climatério acontece porque, apesar do cérebro estar produzindo os hormônios que estimulam os ovários de forma normal, os ovários é que estão apresentando falha na sua produção dos hormônios sexuais.
Quando estamos frente a um ciclo irregular, devemos investigar o que pode estar causando essa variação. Nessa avaliação, não podemos esquecer de levar em consideração a fase de vida da mulher, porque, o momento de vida em si, pode ser a causa de uma irregularidade na menstruação.
Diversas doenças e condições podem ser responsáveis por um ciclo irregular. Em qualquer fase do mecanismo que leva a menstruação podem haver questões que alteram esse equilíbrio.
Começando a pensar no compartimento cerebral, muitas coisas podem alterar a produção dos hormônios que estimulam os ovários como: stress, atividade física em excesso, desnutrição, doenças da tiroide (hipotireoidismo), hiperprolactinemia, algumas medicações psiquiátricas e neurológicas, entre outras.
Quanto a questões ovarianas, algumas das principais condições que precisamos investigar são Síndrome dos Ovários Policísticos, cistos ovarianos e menopausa precoce.
O sangramento irregular pode ser causado também por afecções do próprio útero como miomas, pólipos, sinéquias uterinas, lesões do colo do útero, infecções, etc.
Em mulheres que tem relações sexuais heterossexuais e apresentam atraso da menstruação, não podemos esquecer da possibilidade de gravidez, que é algo que vamos também investigar, a depender do caso.
Quando o médico está frente a um quadro de irregularidade menstrual, o primeiro passo é entender os detalhes da história: quando isso começou, qual a característica da irregularidade, qual o histórico de saúde da paciente, uso de medicações, uso de anticoncepcional, histórico de gestações e cirurgias, hábitos alimentares e de atividade física, histórico da menstruação. Um exame físico minucioso é importante também para buscar no corpo outros sinais que possam dar dicas da causa da irregularidade como peso corporal, presença de pelos em lugares inesperados, manchas na pele, alterações nos genitais internos e externos.
Existem diversos exames laboratoriais e de imagem para investigar essas doenças e condições. Uma vez tirada a história e realizado o exame físico, o médico vai ter uma suspeita da causa do problema e solicitar os exames que ele julga necessário. Dependendo da suspeita serão realizados uns ou outros exames. Por exemplo, na suspeita de desequilíbrios hormonais, podem ser solicitados exames de sangue dos hormônios, exames para investigar outras patologias como diabetes e doenças da tiroide, na suspeita de doenças uterinas como miomas ou pólipos será solicitado um ultrassom transvaginal.
O tratamento da irregularidade vai depender da causa dela, podendo ser desde apenas observar, como no caso de adolescentes com exames normais e que acabaram de entrar na vida menstrual, ou até cirurgias, nos casos de miomas muito grandes ou pólipos uterinos.
O ciclo menstrual é fruto do equilíbrio entre a produção dos hormônios sexuais do corpo, e os hormônios cerebrais que estimulam a sua produção, e o funcionamento dos órgãos genitais internos – ovários, útero e vagina. Quando uma mulher apresenta um ciclo irregular, que foge do seu padrão, isso deve ser interpretado como um sinal de um desequilíbrio em alguma parte desse processo.
É essencial que seja investigada a causa da irregularidade e tratada, quando necessário, para evitar maiores problemas no futuro. Infelizmente muitos profissionais da saúde ao invés de investigar os desequilíbrios do ciclo menstrual frente a uma irregularidade, bloqueiam o ciclo através do uso de pílulas anticoncepcionais com o discurso de que a pílula vai “regular” o ciclo menstrual, o que é uma falsidade. Ao fazer isso silenciamos nosso corpo quanto aos sinais de problemas que ele está nos dando e podemos perder a oportunidade de descobrir uma doença que estava aparecendo através desse sintoma de ciclo irregular!
Não normalize alterações de ciclo e não bloqueie seu ciclo através do uso de hormônios sem antes entender a causa do desequilíbrio!
Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende presencialmente em seu consultório em São Paulo, ou via telemedicina.