O auto exame ginecológico é uma prática que faz parte da ginecologia autônoma e da ginecologia natural como forma de desenvolver a autonomia e o autoconhecimento da mulher. Através do estudo do próprio corpo, da anatomia e da fisiologia, a própria pessoa consegue observar mudanças do seu padrão habitual e identificar quando algo está desbalanceado. 

O autoexame ginecológico é, portanto, a pessoa conseguir observar e tocar sua própria vulva, vagina e colo do útero através da observação externa, do toque vaginal e do exame especular.

Todo mundo que tem vagina e que quiser pode sim, e consegue, realizar o auto exame, só precisa de vontade, um espéculo, lubrificante, um espelhinho, uma lanterna e alguém pra te explicar. 

Observação externa

A observação externa é o ato de olhar em detalhes para a região da vulva e períneo. O primeiro passo é identificar e nomear todas as estruturas, depois observar se existe alguma lesão diferente que não deveria estar lá como verrugas, úlceras, bolhas, vermelhos. 

O ideal é sempre ter na cabeça como é o seu genital saudável, porque, então, quando você estiver com algum sintoma, como uma coceira, por exemplo, pode notar que a região está mais fina, mais vermelha, com bolinhas, etc. Essa observação deve ser detalhada e cada dobrinha, cada local deve ser observado em detalhes com a ajuda de um espelho e luz. A região do ânus, virilha, púbis, tudo deve ser visto. 

Nessa parte do exame também já é possível observar se tem alguma secreção saindo pela vagina, na entrada. Se existe alguma feridinha na entrada da vagina que pode ser uma fissura, por exemplo. Se você está com algum sintoma como uma dor, coceira, sempre procure olhar bem o local do sintoma para identificar se tem alguma lesão naquele lugar.

Vulva

Toque vaginal

O toque vaginal consiste em introduzir um ou dois dedos na vagina buscando encontrar com os dedos o colo do útero. É possível também com a mão que não está na vagina, tocar o baixo ventre e tentar identificar onde está o fundo do útero e com esse toque bimanual entender o tamanho, a posição e a mobilidade do seu útero. No toque vaginal é possível também observar a secreção vaginal que vai sair no seu dedo, ou retirar algo da vagina que está no fundo de saco, como uma camisinha ou um absorvente interno. Usuárias de DIU conseguem palpar o próprio fio do DIU nesse exame.

Exame especular

O exame especular consiste na introdução do espéculo na vagina e abertura desse espéculo para visualização do colo do útero em uma visão direta. A própria paciente com o certo posicionamento e treinamento consegue realizar esse exame e observar o próprio colo do útero com o auxilio de um espelho e de uma lanterna. Nesse exame é possível identificar a secreção vaginal diretamente, sem retira-la. Em casos de candidíase, por exemplo, é possível identificar as placas de secreção que ficam aderidas nas paredes vaginais. Além disso, no colo do útero, a paciente consegue observar se há alguma lesão, verruga, mancha, etc.

Essa é a parte mais difícil do auto exame ginecológico porque é preciso uma certa técnica para achar o posicionamento correto do espéculo para identificar o colo do útero de cada mulher, mas, com a ajuda de alguém que entende do assunto nas primeiras vezes, é perfeitamente possível aprender essa técnica.

Essa prática parte do princípio de que se você conhece seu normal, é possível você identificar quando algo esta diferente e, no caso de alterações leves, se auto diagnosticar e, inclusive se auto tratar com medicações naturais em casos específicos.

Também é possível entender de forma mais detalhada como a secreção vaginal altera ao longo do seu ciclo e identificar quando um “corrimento” é na verdade normal para você para essa fase do ciclo, e, assim, evitar uma visita desnecessária ao médico.

É importante dizer que o auto exame ginecológico é uma forma de autoconhecimento mas não substitui o exame médico. Ele é uma forma do paciente entender o funcionamento e a anatomia do próprio corpo para desenvolver a capacidade de perceber quando algo está realmente alterado e, se necessário, procurar um médico para uma avaliação ou tratamento mais específico.

O auto tratamento de patologias comuns e que o paciente já possui conhecimento, como candidíases simples, herpes genital que você já teve antes, irritações e alergias na vulva, deve ser realizado sempre com medicações naturais e nunca com remédios da farmácia! 

Tratar sozinho uma candidíase que você identificou pelos sintomas e pelo auto exame com camomila ou alho é uma coisa, ok, você pode realizar esse tratamento caso já tenha sido orientada previamente por algum profissional. Caso não aja melhora, ou você identifique uma alteração nova que nunca teve, ou seja, um quadro mais complicado, sempre deve procurar um profissional da saúde. O uso de remédios de farmácia por conta própria não é indicado porque isso pode gerar quadros de resistência a medicações e esses remédios podem ter efeitos colaterais ou interações medicamentosas que o paciente pode desconhecer. Para uso de medicações farmacêuticas o ideal é sempre conversar com seu médico. Alterações crônicas ou recorrentes que sempre voltam também devem ser avaliadas por um profissional.

A autonomia vem com responsabilidade de entender até onde vai o limite do seu conhecimento e pedir ajuda quando está na dúvida ou quando está frente a quadros mais longos e complicados.

Essa prática pode parecer estranha e incomum para muitas pessoas, mas venho aqui dizer que é, sim, uma técnica fácil de ser aprendida, caso seja seu desejo, e que se tem alguém que tem o direito de tocar ou introduzir um espéculo na sua vagina é você! Muito mais do que o médico, seu marido, sua parceira etc.

O corpo é seu você tem o direito de aprender tudo que quiser sobre ele!

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende em seu consultório, que fica localizado na Vila Mariana, em São Paulo. 

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