A pílula anticoncepcional é considerada a primeira opção de método anticoncepcional no Brasil, na prática. Tirando os preservativos, que são amplamente oferecidos, tanto para prevenção de gravidez, quanto de infecções sexualmente transmissíveis.

Porque isso acontece? 

O início do uso da pílula é imediato, não necessita de nenhum procedimento médico nem exame prévio, basta a paciente começar a tomar o comprimido. A pílula é fácil de ser adquirida, existem várias pílulas no SUS e nas farmácias, e fácil de ser retirada quando a paciente não quiser mais esse método, basta parar. É um método não invasivo, além de ser segura no propósito de evitar gravidez.

Ademais, a pílula carrega supostos benefícios (para sintomas que são normalmente associados com queixas negativas) como: diminuir cólica menstrual, diminuir ou cessar a menstruação, diminuir a oleosidade da pele e, acima de tudo, CONTROLAR o sangramento.

Digo supostos quanto aos benefícios e não quanto aos efeitos. Sim, a pílula diminui a quantidade de sangramento, a cólica e a oleosidade da pele, mas a que custo? Será que no geral, contando benefícios e efeitos colaterais, ela é mais benéfica?

Assim como todas as medicações, a pílula tem um efeito desejado e efeitos colaterais, (não desejados), mas que ocorrem com a tomada do medicamento. Todas as intervenções médicas terão benefícios e malefícios e é o equilíbrio deles, sendo analisado conjuntamente com as características pessoais de cada paciente, que vão ditar se ela deve ou não ser receitada em cada caso.

Infelizmente, em muitos casos, não é realizada essa analise pessoal e detalhada comparando a pílula com os muitos outros métodos anticoncepcionais que temos disponíveis hoje em dia. Isso ocorre, talvez, pela facilidade de instalação desse método e disponibilidade dele, por ser um método muito conhecido e popular, ou por desconhecimento mesmo dos profissionais de saúde sobre as melhores indicações para alguns grupos de pacientes, como as adolescentes.

Culturalmente falando, no Brasil é considerado normal a introdução de pílulas anticoncepcionais para adolescentes, as vezes muito jovens, seja com o propósito de anticoncepção, ou com o objetivo de controle do ciclo menstrual. As meninas e as mães têm, muitas vezes, essa vontade, esse desejo de “resolver” alguns “problemas” com o uso da pílula. A menina jovem começa a tomar o anticoncepcional, não precisa mais se preocupar com o sangramento inesperado na viagem da escola, com a cólica que pode aparecer na aula e ainda de quebra, quando for começar a transar não vai ter que se preocupar com gravidez.

Dessa forma, muitas adolescentes iniciam o uso da pílula em tenra idade e vivem anos e mais anos sob efeito desse medicamento, sem ter total consciência de todas as possíveis alterações que ele pode causar no seu corpo. 

Pode ser que algumas dessas adolescentes tivessem mesmo a pílula como o melhor método a ser receitado naquele momento, lá aos 15 anos, mas com certeza não eram todas.

Mas qual é o problema de usar pílula? 

Nenhum se ela for o melhor método para você e você for informada de todos os efeitos colaterais e aumento de riscos que podem acontecer com o uso dela e aceitar esse método conscientemente e com informação. Não vou entrar em detalhes dos possíveis efeitos colaterais, isso vocês conseguem lendo a bula, mas vou falar especificamente quanto à questão de conhecimento do próprio corpo e do ciclo menstrual.

Quando estamos sob efeito da pílula, não temos um ciclo hormonal normal, portanto não temos como conhecer nosso ciclo e nem entender como essa natureza cíclica normal feminina interfere em todos os aspectos da nossa vida. Isso traz, no mínimo, um distanciamento do corpo, afasta as mulheres do caminho do autoconhecimento do corpo normal, cíclico. Pode ser que isso não seja algo importante para você e tudo bem; pode ser que não era quando você era adolescente, mas agora na vida adulta é e você está justamente se questionando como é esse funcionamento normal.

Bom, voltando às adolescentes.

Hoje em dia o método de escolha de anticoncepcionais para adolescentes, são os métodos de longa duração (DIUs, implante). Isso ocorre porque esses métodos protegem a paciente por um período mais longo de tempo, mas o principal motivo é que eles são métodos que não dependem da paciente. Estudos já mostraram que nessa fase da vida, o esquecimento do tomar o comprimido diariamente, ou mesmo a injeção a cada mês, é maior e, com isso, ocorre maior taxa de falha nessa população no uso dos métodos de curta duração.

Mas porque a grande maioria das adolescentes que usam algum método usam pílula e não implante ou DIU? 

Claro que temos que levar em consideração a questão social de falta de acesso a esses métodos no SUS, mas essa não é a questão que eu quero abordar aqui, quero abordar a questão cultural.

Na Europa e mesmo nos Estados Unidos, a sociedade não aceita a introdução de pílulas com a mesma naturalidade que aceita aqui no Brasil. Muitos julgam que não é adequado medicar meninas muito jovens com drogas com diversos possíveis efeitos colaterais quando temos métodos mais inócuos como preservativo e DIU de cobre, que não afetam a produção natural hormonal da usuária.

Então se você é uma adolescente que toma pílula, ou a mãe de uma, ou ainda uma mulher que esta bloqueada com pílula há muitos anos e tem dentro de você o questionamento: Como será que é meu corpo sem esse bloqueio hormonal? Como meu corpo funciona quando está natural? Será que tem diferença? (TEM!) Saiba que existem outras opções de métodos anticoncepcionais tão seguros quanto, as vezes até mais, e que não bloqueiam sua produção hormonal.

Se você quer continuar na pílula também está tudo bem! Eu só proponho que todas as pessoas que tomam qualquer medicamento questionem a indicação dele, avaliem se ele é necessário e se ele é a melhor opção para você e para os seus objetivos.

Devo fazer uma observação, aqui, que estou falando tudo isso pressupondo que essas mulheres tenham acesso a esses outros métodos anticoncepcionais que não a pílula. Sei que em diversas condições sociais talvez a pílula seja o único método disponível e, nesses casos, devemos pensar no melhor benefício das usuárias que, muitas vezes, vai ser manter o medicamento oral.

Não importa qual é a sua escolha de método anticoncepcional. O que não deve deixar de ser feito, é avaliar caso a caso todas as opções que existem e estão disponíveis para cada mulher e decidir, o médico com a paciente, qual o melhor método para ela naquele seu momento de vida.

Calma meninas, eu prescrevo pílula também, só quero colocar a pulga atrás da orelha de que devemos sempre estar atualizadas quanto a todas as opções de tratamentos e intervenções que temos disponíveis, sempre buscando o efeito desejado com o menor dano ou efeito colateral possível.

Dra Amanda Loretti estudou medicina na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, e foi nessa mesma instituição que realizou suas residências médicas em Obstetrícia, Ginecologia e Medicina Fetal. Depois de formada ainda realizou especialização em Ginecologia Endócrina e hoje em dia atua principalmente em obstetrícia humanizada, ginecologia e sexualidade. Atende presencialmente em seu consultório em São Paulo, ou via telemedicina. 

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